sábado, 30 de outubro de 2021

O escravo que orava



CUFFEY O ESCRAVO QUE ORAVA
Uma vez, um americano dono de escravos, ao comprar mais um, perguntou ao vendedor: “Diga-me honestamente, quais são os defeitos dele?” O vendedor respondeu: “Não tem nenhum defeito, que eu saiba, exceto um — ele ora.” “Ah!”, exclamou o comprador, “isso não me agrada, mas sei de algo que o curará logo desse mal”.
Então, na noite seguinte, Cuffey (assim se chamava o escravo) foi surpreendido na plantação por seu novo amo enquanto orava pedindo por seu novo dono, sua esposa e sua família. O homem escutou a oração e na hora não disse nada. Mas, na manhã seguinte chamou Cuffey e disse-lhe: “Não quero discutir contigo, homem, mas não aceitarei orações em minha propriedade. Então, abandone esta prática.” “Meu amo,” respondeu o escravo, “não posso deixar de orar. Eu devo orar sempre.” “Se insistes em orar, te ensinarei a fazê-lo.”
“Meu amo, não devo parar.” “Bem, então te darei vinte e cinco açoites por dia, até que deixe de fazê-lo.” “Meu amo, ainda que me açoites cinquenta vezes, devo orar.” “Pois, por causa de toda insolência com que responde ao seu amo, receberá os açoites de imediato.” Então, amarrando-o, o açoitou vinte vezes e perguntou-lhe se iria orar de novo. “Sim, meu amo, devemos orar sempre, não podemos deixar de orar.” O amo o fitou assombrado.
Não podia entender como um pobre homem poderia continuar orando, quando não parecia fazer-lhe nenhum bem e só lhe trazia perseguição. O senhor contou a sua esposa o ocorrido.
Ela lhe disse: “Por que não permites que o pobre homem ore? Cumpre muito bem o seu trabalho. Não nos interessa o tema da oração, mas não há nada de mal em deixá-lo orar, sobretudo se continua realizando bem seu trabalho.” “Mas não me agrada,” respondeu o amo.
“Espantei-me tremendamente. Se você tivesse visto como ele me olhava” “Estava com raiva?” “Não, isso não me incomodaria. Mas depois de tê-lo açoitado, me olhou com lágrimas nos olhos como se tivesse mais pena de mim do que dele mesmo.” Nessa mesma noite o senhor não conseguiu dormir. Dava voltas na cama de um lado a outro. Lembrou-se dos seus pecados. Lembrou que havia perseguido a um santo de Deus. Levantando de sua cama, falou: Esposa, pode orar por mim?” “Nunca orei em minha vida,” respondeu ela, “não posso orar por ti.” “Estou perdido,” disse ele, “se alguém não orar por mim. Eu não posso orar por mim mesmo.” “Não conheço ninguém na plantação que saiba orar, exceto Cuffey,” disse a esposa. Fizeram soar a campainha e trouxeram o escravo. Tomando sua mão, o amo perguntou: “Cuffey, pode orar por mim?” “Meu amo,” respondeu o escravo, “tenho orado pelo senhor desde que me açoitou e tenho a intenção de seguir orando sempre pelo senhor.”
Cuffey pôs-se de joelhos e derramou sua alma em lágrimas e tanto a esposa como o marido foram convertidos. Este negro não poderia conseguir isto sem fé. Sem fé, não teria sustentado sua decisão, e teria exclamado: “meu amo, neste momento deixo de orar. Odeio os açoites do homem branco.” Mas por causa da perseverança da sua fé, o Senhor o honrou e deu-lhe a alma de seu amo em recompensa.

Charles H. Spurgeon 

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